quarta-feira, 17 de março de 2010

Adoção, quando falar?

Este é um assunto que assombra pais adotivos e que surge muita dúvida.
O artigo abaixo é muito bom e ajuda muito a pensar e decidir sobre o assunto.

Por Adriana Mabilia



- Quanto mais cedo melhor
- Os fantasmas dos pais biológicos
- Uma decisão familiar

Decidir sobre contar ou não à criança que ela foi adotada e definir a hora certa para revelar a verdade são os grandes tabus que atormentam pais adotivos. A psicóloga Isabel Cristina Gomes, de São Paulo, diz que o momento correto é "sempre", desde o instante em que ela é acolhida por sua nova família, ainda pequena.

"Oriento os pais a contar a verdade aos poucos, em forma de historinha, mostrando que a mamãe não pôde cuidar dela e que eles a escolheram porque queriam muito um filhinho". A psicóloga explica que a verdade é importante, pois só assim a criança será capaz de confiar plenamente no amor que os pais sentem por ela.

Esconder a realidade faz com que o pequeno se sinta como se estivesse pisando num campo minado prestes a explodir. E quando percebe que há um segredo pairando no ar, fica mais vulnerável a problemas como insegurança, mau desempenho na escola e outros distúrbios de comportamento.

Isabel Cristina acredita que a criança adotada sabe, inconscientemente, a verdade sobre ela. Por isso, é importante que os pais deixem bem claro que o fato de não serem os pais biológicos em nada diminui o seu afeto. "É muito complicado conviver com essa mentira", ressalta a psicóloga.

Quanto mais cedo melhor

Se desde pequena a criança souber que é adotada, saberá encarar o fato com naturalidade. Mas se a verdade for revelada quando estiver mais velha, as reções poderão ser as mais variadas: aceitação e alegria pela sorte de ter uma família até a perda da confiança nos pais adotivos e o medo de ser novamente abandonada.

Muitos pais se furtam a revelar a verdade com a desculpa de que as crianças não querem saber, fogem do assunto ou desconversam quando o tema é abordado. "Essa atitude apenas demonstra que ainda não estão prontas para encarar o assunto. O momento certo varia de filho para filho e da relação afetiva estabelecida com os pais adotivos", garante a psicóloga.

Os fantasmas dos pais biológicos

Muitos pais adotivos vivem apavorados com a possibilidade de que os filhos queiram, um dia, conhecer os pais biológicos e que, por isso, venham a abandoná-los. Em contrapartida, alguns filhos, por se sentirem inseguros em relação ao amor dos pais adotivos, usam o artifício do desejo dessa busca para provocar ciúme e se certificar de que são realmente queridos por aqueles que os acolheram.

Se isso acontecer, o melhor a fazer é ajudar. Às vezes os pais adotivos conseguem encontrar a pista certa e chegar à família da criança, mas isso nem sempre é possível. Em geral, mães que entregam seus filhos à adoção preferem não deixar rastros. Nesse caso, converse abertamente com a criança e colabore ainda mais para que ela se sinta segura e amparada por seu amor.

Alguns mitos que envolvem a adoção podem ser esclarecidos com uma boa preparação do casal. O contato com um psicólogo, visitas a orfanatos e um bate-papo com os coordenadores desse tipo de instituição são extremamente úteis. Ajudam a ampliar a visão dos pais, mostrando que a escolha da criança amada vai além de querer um bebê loirinho e bonitinho. Filho "de coração" não precisa ser parecido com os pais. Se isso estiver claro e bem elaborado, a raça e a cor da criança não terão a menor importância.

Uma decisão familiar

Se o casal já tem filhos biológicos, a decisão de adotar uma nova criança deve ser compartilhada por toda a família, já que a novidade trará mudanças para todos. É preciso que pais e filhos estejam dispostos a aceitar o bebezinho adotado com o coração aberto e com muito carinho a oferecer.

Para Isabel Cristina, quando o casal já tem filhos de sangue, é primordial que eles saibam realmente o por quê do desejo da adoção: "Penso que isso deve ser discutido no âmbito familiar. É necessário que os pais conversem exaustivamente com os outros filhos sobre como a família vai lidar com isso e que esgotem os argumentos que justificam a decisão do casal."

Consultoria: Isabel Cristina Gomes - professora doutora do departamento de psicologia clinica do Instituto de Psicologia da Universidade de S?o Paulo; especialista em diagn?stico familiar e atendimento individual. E-mail: isagomes@nw.com.br

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